O dia do orgulho autista, comemorado em 18 de junho, surgiu em 2005, e foi organizado pelo coletivo Aspies For Freedom¹. Mas para entender essa história é necessário conhecer um outro grupo sobre autismo, a Autism Speaks². Este grupo foi fundado por Bob e Suzanne Wright, após o neto, Christian, ser diagnosticado com autismo. O seu símbolo era uma peça de quebra-cabeça azul com o desenho de uma criança chorando no meio. Sim! Foram eles que associaram o autismo com azul e com peças de quebra-cabeça. Mais do que isso, associaram o autismo com uma doença terrível, ou como eles falavam: um ladrão que rouba as crianças de suas famílias. O suprassumo do capacitismo!
A Aspies for Freedom² resolveu chamar atenção do jeito correto. Foram eles que difundiram a logo do infinito multicolorido, representando toda a neurodiversidade. Foram os primeiros a levantar a bandeira que o autismo não era uma doença, mas uma condição. Daí também surgem as raízes do “Nada sem nós, sobre nós”, a ideia de que sempre deverá existir autistas quando se for discutir autismo e ações voltadas para autistas. Se hoje temos liberdade de autistar e ocupar os mais variados lugares na sociedade, devemos a esse movimento que iniciou esse projeto. Então, sim, devemos comemorar o dia 18/06 com muito entusiasmo!
Devemos conhecer a história, pois ela nos ajuda a entender referências e situações de hoje.
Segundo o Google, orgulho é “sentimento de prazer, de grande satisfação com o próprio valor, com a própria honra”. Já “valor” é uma palavra com múltiplos significados, mas aqui nos cabe a “qualidade humana física, intelectual ou moral, que desperta admiração ou respeito.” Particularmente, para mim, o orgulho é antônimo da vergonha e sinônimo de liberdade. Não devemos nos envergonhar por sermos quem somos. Devemos ser livres para autistar sem medo de que nos achem uma anomalia.
Grande parte de como as pessoas nos veem tem a ver com como nos vemos. É por isso que falo tanto em terapia, autoconhecimento e autoaceitação aqui na Liga. Pra quem teve o diagnóstico tardio, a infância foi um lugar de cobranças para agir como alguém “normal”. Pra quem foi diagnosticado na infância, o desafio foi crescer com o capacitismo e todos duvidando que era capaz. Além da terapia para treino de habilidades sociais é necessário fazer terapia para tratar nossos traumas também. Somos autistas, mas não somos só autistas. Há outras camadas que precisamos trabalhar para atingir a tão sonhada qualidade de vida.
Definições à parte, a pergunta que trago nesse texto da semana do orgulho autista é: Você se orgulha de quem é?
¹ ‘Aspies’ apelido para quem era enquadrado no antigo diagnóstico de Síndrome de Asperger, em tradução livre e atualizada o nome do coletivo seria: Autistas pela Liberdade; ² Autismo Fala, em tradução livre;
Comments