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Foto do escritorKamilla Brandao

Expectativa x Realidade

Quando vemos conteúdos sobre TDAH nas redes sociais, geralmente há um padrão estereotipado. Mostram alguém que esquece dos compromissos, procrastina, começa várias coisas e não termina nenhuma. Mas você sabia que isso não vem do TDAH em si? Esses comportamentos se devem à Disfunção Executiva, condição coexistente ao TDAH, mas que pode estar presente em outros transtornos como o TEA.  Antes de falar mais sobre essas disfunções, vamos entender melhor o que são funções executivas.

Nosso cérebro é o nosso computador central, ele que planeja e supervisiona todas as atividades do nosso corpo. Todas essas atividades do cérebro são agrupadas conforme suas funções. As executivas são aquelas que permitem que o indivíduo consiga desempenhar uma vida funcional em interação com o meio. Podemos subgrupá-las em 3 tipos: Memória Operacional, Controle Inibitório e Flexibilidade Cognitiva. Em um exemplo prático, imagine que você vai sair com um amigo. Você planeja mentalmente, escolhe uma roupa, precisa de noção de tempo para saber quando precisa iniciar para não se atrasar, precisa definir prioridades para fazer tudo no tempo que tem. Todas essas ações são exemplos da primeira função cognitiva. Problemas aqui fazem a pessoa se atrasar, congelar por não saber por onde começar, pois não consegue criar uma lista lógica e ordenada de ações.

Voltando ao nosso exemplo, você havia planejado sair com sua camiseta branca. Ao procurar ela em casa, lembrou que ela manchou e você tinha levado ela na lavanderia. Não tem como usar hoje. A vida é cheia de imprevistos, sempre algo inesperado vai acontecer. Podemos tentar antever e se precaver, mas é impossível que consigamos prever todas as variáveis. E nem é saudável tentar! Precisamos ter a flexibilidade cognitiva para readequar o rumo no meio de uma quebra de expectativa. Lembre-se que tem um amigo nos esperando, se a gente for sentar na cama chorando porque a camiseta branca não está disponível, vamos nos atrasar.

Finalmente você escolhe uma outra camisa para vestir, mas percebe que está atrasado. Voltamos à primeira função, você vai replanejar, pela percepção do tempo, e redefinir novas prioridades. Você então pensa: Se eu não tomar banho eu consigo chegar no tempo! O controle inibitório é o que vai lhe fazer cheirar debaixo do braço e pensar que o banho não é algo que possa ser riscado da lista! O controle inibitório tem uma importante função, ele que freia nossa impulsividade. Nos faz pensar nas consequências. É o que te impede de atravessar uma rua sem olhar se vem carro, ou de dizer coisas ao seu chefe que certamente te fariam ser demitido.

Tudo isso é uma disfunção, precisa de tratamento. A gente não fica em casa deitado e pensando: vou me atrasar de propósito porque gosto de fazer as pessoas de bobas.

Ambos, TDAHs e Autistas com disfunção executiva, tem problemas com a memória operacional. Porém, nos autistas, há uma prevalência maior de déficits com rigidez cognitiva e nos TDAhs com disfunções de controle inibitório. Por isso a tríade do TDAH é desatenção, hiperatividade e impulsividade. Já no autismo, o forte controle inibitório desencadeia o masking (mascaramento das características autísticas visíveis). Nos TDAHs a rigidez cognitiva se apresenta como uma forte teimosia. Frequentemente, são taxados como pessoas que querem fazer tudo do seu jeito. Graças a impulsividade, eles entram em muitas situações de conflito para defender o seu ponto de vista. Já nos autistas com forte controle inibitório, a rigidez cognitiva se apresenta como grande apego as rotinas e regras. Como há o déficit na memória operacional, o autista só precisa decidir as coisas uma vez, ele não vai precisar revisitar essa etapa executiva, replanejando e tomando decisões. Ele toma uma decisão e repete de forma ritualística.

A disfunção executiva pode ser atenuada, nos dando mais qualidade de vida. Um grande parceiro nessa jornada é a terapia cognitiva comportamental, pois ajudará, com ações práticas, a remodelar comportamentos e apresentar técnicas de percepção e flexibilização. O primeiro passo é perceber que isso é uma disfunção executiva. Você não é preguiçoso, brigão, medroso, desorganizado. Você não esquece compromissos porque gosta de magoar pessoas. Faça as pazes com você mesmo e vá em busca do seu tratamento, meu Etêzinho!

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